15 setembro, 2010

Wassup' Cool #1: Simplicity is the new black

A Moda árcade no sentido do basic-simple

Foi a Chanel que primeiro lançou uma coleção toda inspirada em temas campestres, árcades, que apostou numa aproximação entre homem e natureza e numa fuga da cidade grande, correto? Errado.

O panorama atual do mundo da moda se dá de uma forma bem diferente da maneira como ocorria há alguns anos. Antigamente, havia um fluxo unilateral de informação, a indústria tradicional era vinda de cima para baixo, na qual o consumidor era visto apenas como uma simples parte do processo final da concepção de uma coleção: seu papel era apenas comprar. A moda é talvez o símbolo desse sistema no qual os criadores de novos produtos são vistos como reais deuses e o que está dito é palavra final, término da história. Todavia, a situação com a massificação da internet veio mudando num ritmo assustadoramente rápido na última década.

Nova Dinâmica do Mercado

Não falo isso por mim. A própria Anna Dello Russo, editora criativa de moda à frente da da Vogue Nippon, confirmou o fato em uma entrevista ao portal FFW. A internet e o fluxo de informações cada vez mais rápidas têm permitido trocas nas duas direções da antiga seta que ia exclusivamente do produtor ao comprador de bens e serviços. Quem consome passou a ter papel ativo na hora da concepção de um produto final. Isso é, sem dúvida, muito positivo aos dois polos interessados no processo da produção e venda em si. As marcas, por sua vez, podem entender melhor o que o consumidor deseja e necessita e visa sempre proporcionar a melhor experiência que o fideliza e garante lucros a longo prazo. Ao passo que, quem compra, tem uma maior garantia de encontrar em um determinado bem de consumo exatamente aquilo que deseja, que represente sua realidade vivida àquele momento. É assim que o mercado está andando atualmente.

Chanel não é boba. Se fosse, não teria o tamanho e a influência que detém na indústria indumentária há décadas. E o motivo de toda essa volta que dei para explicar o que significa essa tendência não só da Chanel mas da moda em geral da simplicidade e do básico foi justamente explicar que esse é um movimento da sociedade de consumo, não das marcas. Ou seja, quem muda a concepção são os consumidores: são eles que estão pedindo esse afastamento das questões e da loucura da cidade grande, dos excessos, do carregamento quase que literalmente militar das últimas coleções de temporadas passadas. As grifes tem o papel de pedir ao setor de marketing pesquisar o processo em si e entender esse fluxo de informações. E é aí que a internet facilita muito um feedback necessário, visto ser um meio de comunicação de acesso global e que processa dados a uma velocidade fantasticamente alta.

Chanel e Ralph Lauren -

Há a constante crítica de que a moda é cíclica e de que as empresas só se valem disso para incentivar o consumismo exacerbado da população. E isto é, de certa forma, verdade. É mais uma vez que toco na tecla de que a moda é uma indústria como qualquer outra e precisa sim de consumo, embora muitas pessoas, principalmente as que observam os fluxos de fora, enxerguem-na como um mundo de puro glamour, dinheiro e romance. É verdade, há glamour, dinheiro e romance, assim como há crises, falências, desemprego. A era da informação tem deixado isso um pouco mais claro para o consumidor. E este tem se cansado um pouco desse processo de consumismo desenfreado e sem aferição de consequências. A crise mundial veio como um alerta para muitos países.

É nesse sentido que muitos repensaram seus valores: o que é e para que serve a moda? Antes de ser uma indústria, é verdade, a moda é uma expressão artística tanto para quem cria como para quem consome. É uma maneira de comunicar ao mundo seus valores, quem você é, uma espécie de sorriso ou de cartão de visitas que gera a primeira impressão antes mesmo de abrir-se a boca e impressionar com algum discurso, um processo que envolve criatividade. E a criatividade precisa, naturalmente, de tempo para ser testada, experimentada. Não adianta tentar enfiar goela abaixo do consumidor num ritmo frenético, non-stop porque o resultado já começa a aparecer: há uma hora em que o limite de saturação chega e aí os mercados são obrigados a buscar novos rumos.

Na onda do consumo consciente, do environment, do think green, as coleções vem seguindo a linha do basic-simple. Pegadas rurais, campestres, o cowboy, tons claros, linhas minimalistas, palheta de cores relacionadas à terra – toda a atmosfera que conecta o homem da cidade com o homem que ele busca ser, ao homem do campo, à inocência e à simplicidade. Tudo isso está relacionado ao comportamento do consumidor que é minuciosamente estudado pelas marcas e garante a ele mesmo que, no fim das contas, esteja consumindo aquilo que representa a sua realidade em determinado momento.

Arcadismo em editoriais

Alguns desfiles que acompanhei na semana de moda de Nova Iorque da temporada Spring 2011, que termina amanhã, dia 16 de setembro, representam bem isso. Sejam de cunho minimalista, que ainda preservam uma imagem austera e refinada da moda, sejam mais voltados para o básico dos brancos, a maior parte do movimento se dá nesse sentido de uma sociedade mais branda, em busca de roupas com maior durabilidade, num padrão menos consumista e mais consciente, duradouro. Empresas se adaptam a isso e o mercado tende a seguir um certo equilíbrio com roupas mais acessíveis a preços idem.

Alexander Wang e Cristian Siriano, por exemplo, apresentaram coleções baseadas em tons claros, brancos e formas soltas, resgatando o frescor da primavera. Diane Von Furstenberg apostou também em um shape mais armado e descolado da silhueta além de propor estampas que beiram o étnico e cores bem variadas. Por fim, a Tommy Hilfiger apresentou uma coleção muito viva, mesmo que ainda em uma modelagem mais tradicional baseada na alfaiataria e em formas mais sérias e tradicionais, o designer mostrou uma palheta aberta, divertida.

NYFW

Termino esse post com a certeza de que vou receber duras críticas. É difícil expor a minha ideia sobre moda e às vezes posso parecer cético demais sobre mudanças mas, na realidade, acredito que a sociedade como um todo vem mudando e para melhor. A crise econômica veio como um alerta para um sistema em declínio que vem mudando progressivamente. Na minha opinião, o mundo tem saída sim e a tendência é somente melhorar. E vocês, continuam céticos, ou creem num planeta mais equilibrado?

Um comentário:

  1. Muito bom, Luiz!
    Existe um detalhe que pode balançar tudo que você disse. O individuo. A consientização não é natural de grande parte da sociedade, o que torna mais forte o desejo de consumo e a necessidade de se encaixar a um padrão. Mas isso é relativo por ser uma questão cultural. No Brasil por exemplo, contamos nos dedos as marcas consientizadas e isso acontece por ter uma pequena parcela de consumidores para este setor. Enquanto houver publico consumista (inconsciente) ativo, é essa a linha que as marcas brasileiras vão seguir. O que não invalida, confirma o que você falou em relação ao caminho bilateral entre consumidor e indústria.
    E fique tranquilo, se receber criticas, serão daqueles que acreditam no glamour.
    Beijos!

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